Antropoceno e termodinâmica do pensamento.
Introdução à entropologia
Autor: Marco Antonio Valentim
128 páginas
ISBN: 978-65-87529-44-8
Este livro tem por objetivo investigar o arranjo complexo de atividade noética e potencial termodinâmico na conformação do Antropoceno como nova época da Terra enquanto ambiente cósmico. Elaboram-se aqui, em sentido cosmológico, hipóteses originalmente formuladas no epílogo de Extramundanidade e sobrenatureza (Valentim 2018).
Nesse primeiro livro, procurou-se questionar, por meio de um experimento comparativo, teorias ontológicas modernas na confrontação com um conjunto de concepções espirituais ameríndias significadas pela noção filosófica de “perspectivismo cosmológico” (Viveiros de Castro 2002), com ênfase especial no estudo do pensamento xamânico de Davi Kopenawa em A queda do c.u (Kopenawa & Albert 2015).
Tratava-se, então, de demonstrar que a cosmologia ameríndia implica uma espécie de contra-ontologia, caracterizada pela desidentificação radical da possibilidade de ser com propriedade existencial em sentido exclusivamente humano, por via do reconhecimento de agências extra-humanas como originariamente constitutivas do que, no pensamento ameríndio, corresponderia equivocamente ao “sentido do ser em geral”. A consequência mais importante disso foi a constatação de uma conexão cosmológica subterrânea entre a teoria ontológica (em
particular, o conceito de mundo) e a catástrofe ecológica (em especial, a destruição do clima): o antropismo característico da ontologia moderna teria um papel determinante nas transformações naturais, culturais e sobrenaturais reunidas no conceito multidisciplinar de Antropoceno (Danowski, Viveiros de Castro & Saldanha 2022, 2023).
Trata-se, agora, de investigar o potencial termodinâmico do pensamento a partir da diversidade de suas configurações cosmológicas e socioambientais. Para tanto, são comparadas concepções de entropia e fenômenos entrópicos a elas correspondentes, tendo-se em vista o problema entropológico principal, o da relação entre entropia e antropia: que nexo há entre o espírito e o calor? Que tipo de pensamento esquenta ou
esfria o mundo? Que tipo de mundo esquenta ou esfria o cosmos? Como foi e tem sido possível, entropologicamente, o “fogo [‘holocáustico’] do Antropoceno” (Danowski 2022: 124)? Com a deflagração desse fogo antrópico sem precedentes em natureza e escala, confirma-se a “morte térmica do universo” (Prigogine & Stengers 1992) como horizonte desde sempre inexorável da história da espécie humana no planeta? Ou será possível desviar a flecha entrópica do tempo graças ao improvável clinâmen neguentrópico da “humanidade que pensamos ser” (Krenak 2019)?
Com essas questões em mente, pretende-se desenvolver uma outra conclusão hipotética de Extramundanidade e sobrenatureza: a de que a flecha do tempo muda potencialmente de sentido ao longo da sua trajetória acidentada através dos diferentes mundos situados no mesmo ambiente cósmico. Sem dúvida, o destino do cosmos encontra-se em permanente feitura. Contudo, essa feitura encontra-se hoje, na Terra, pendente do conflito entre forças cosmogênicas e agentes cosmocidas que implicam diretamente os mais diversos povos humanos com seus respectivos mundos. Como isentar a consciência filosófica da responsabilidade pelo colapso socioambiental que atualmente coloca em risco nada menos que a biosfera planetária?
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